o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu, pela primeira vez em três anos, a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,50 ponto porcentual.
Com a queda, a taxa Selic foi de 13,75% para 13,25% ao ano e o corte sinaliza, aos olhos dos analistas, o início de um ciclo de queda nos juros. A taxa estava no patamar de 13,75% desde agosto do ano passado, provocando queixas do presidente Lula e de empresários, já que os juros altos inibem investimentos e o consumo.
Ainda assim, a redução da Selic parece uma realidade distante da maioria dos brasileiros, que podem pensar que essa queda não afeta sua rotina. Só que diferente do que muitos entendem, a taxa encarece ou barateia vários aspectos do cotidiano dos cidadãos. Assim, veja abaixo na prática, como a queda da taxa Selic impacta a vida dos consumidores.
A taxa de juros deve iniciar um ciclo de queda, o que deve trazer algum alívio para quem hoje está endividado. Isso porque os bancos se baseiam na taxa Selic para definir os juros a serem cobrados nos empréstimos.
Vale lembrar que o país superou neste ano a marca de 70 milhões de brasileiros com o CPF negativado, ou seja, com dificuldades para pagar as contas em atraso, segundo o Serasa. O governo lançou em julho programa Desenrola, com o objetivo de acelerar a renegociação de dívidas e afirma que ‘quase’ R$ 3 bilhões de dívidas já foram renegociadas. A meta é R$ 50 bilhões.
Com o corte nos juros, espera-se que haja uma margem maior para renegociação de dívidas. Assim, fica mais fácil do brasileiro arcar com as parcelas de um empréstimo e o nível de inadimplência das famílias brasileiras tende a ser reduzido.
“O consumidor vai sentir um desafogo no crédito. Ele vai perceber taxas de juros menores e uma inadimplência menos assustadora”, afirma o economista da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes.
Diferentes empresas no país têm suas dívidas atreladas à Selic, por isso, há uma série de setores com alta sensibilidade à variação da taxa de juros. Com o patamar elevado da Selic, tem sido mais difícil para as companhias levantarem recursos. A taxa de juros do capital de giro aumenta e fica mais caro para o empresariado pagar contas, contrair novas dívidas e ampliar negócios.
Outro obstáculo recente à obtenção de crédito foi a crise da Americanas, que afetou o mercado de debêntures. As debêntures são títulos de dívidas emitidos por empresas de capital aberto na bolsa, como uma forma delas se capitalizarem para além dos bancos.
Desde o rombo na varejista, uma série de fundos foram afetados e o mercado de crédito ficou mais escasso. Com os juros em 13,75% ao ano, o custo das emissões também ficou mais alto.
Agora, com a redução da Selic, as empresas poderão ver o custo do crédito cair e podem se sentir mais encorajadas a fazer empréstimos e contrair dívidas.
O corte de juros também interfere no crédito imobiliário, que tende a ficar menos custoso. Isso porque o patamar da Selic serve de referência para os bancos definirem as suas taxas de juros.
E as parcelas de um financiamento dependem dos juros praticados pelas instituições financeiras no momento da contratação do crédito. Assim, o brasileiro poderá contar com linhas de crédito mais acessíveis no mercado e as prestações da casa própria ficarão mais baratas.
“A construção civil é muito sensível a juros. A expectativa de redução dos juros favorece a decisão do consumo. Estamos preparando o terreno para uma retomada do mercado imobiliário ", afirma o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.
A redução da taxa Selic tende a conceder algum grau de dinamismo à atividade, ainda que seu efeito não ocorra de forma imediata na economia. Esse movimento ocorre porque uma taxa de juros menor torna o crédito e os investimentos mais baratos.
As famílias se sentem mais incentivadas a comprar bens de maior valor agregado, como carros e imóveis. Ou ampliam o consumo de outras despesas como viagens e eletrodomésticos, por exemplo. Assim, o setor industrial tende a ampliar a sua produção e a atividade econômica ganha tração.
“Estamos com uma janela de reativação da economia pelo menos até o final do ano. Os juros tendem a estar menores daqui pra frente e as expectativas de inflação para 2024 convergem para um patamar mais baixo. São notícias boas para segmentos que dependem do crédito” diz Bentes.
A Selic também influencia as taxas das aplicações financeiras. Com a queda dos juros, os produtos de renda fixa tendem a perder atratividade ao longo do tempo. Ainda assim, segundo especialistas, esse cenário não é imediato.
A classe continua apresentando bons retornos, uma vez que o patamar da Selic continua alto e a inflação está em trajetória de queda. Nesse sentido, aplicações ligadas à Selic ou ao CDI ainda oferecem oportunidades. Para os investidores que aceitam tomar mais risco, outras opções são os prefixados, que oferecem como rendimento apenas uma taxa fixada na compra.
A tendência é que com o decorrer do ciclo de quedas, a renda variável volte a ganhar recursos. O movimento já pôde ser visto na Bolsa nos últimos meses, com a recuperação de ativos ligados à economia local, que tendem a ser mais sensíveis aos movimentos dos juros.
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